Segundo a pesquisa, substâncias químicas na pele das rãs da espécie Lithodytes lineatus inibem o ataque de formigas cortadeiras. Uso da estratégia por vertebrados ainda não havia sido estudado. “Anuros têm muitas defesas químicas na pele, geralmente usadas para proteção contra fungos, bactérias e predadores”, diz o autor do estudo.

Por Ascom do MCTIC

Publicação: 11/11/2016 | 15:00

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Rã da espécie Lithodytes lineatus inibem o ataque das formigas cortadeiras.

Crédito: Ascom/MCTIC

Estudo inédito desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) revela como uma espécie de rã consegue viver com as formigas. As saúvas, que são formigas cortadeiras do gênero Atta, não atacam a rã Lithodytes lineatus, mas agridem outras espécies de sapos, rãs e pererecas. Segundo o estudo, a rã utiliza biomoléculas na pele que inibem a resposta agressiva das formigas, garantindo a sobrevivência nos formigueiros sem ser atacada. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Behavioral Ecology and Sociobiology.

O estudo do biólogo André Barros, aluno de mestrado em Ecologia pelo Inpa, aponta para a existência de substâncias químicas na pele da rã que imitam o reconhecimento químico usado pelas formigas do gênero Atta. Segundo ele, mimetismo e camuflagem químicos são estratégias utilizadas por invertebrados parasitas de insetos sociais (formigas, cupins, vespas e abelhas), mas o uso da estratégia por vertebrados para evitar ser detectado por esses insetos tem sido pouco reportado.

Barros explica que a comunicação entre os membros da colônia de insetos ou parasitas destas colônias, muitas vezes, tem uma base química. “No caso dos parasitas, produtos químicos servem para imitar ou mascarar a sua presença dentro da colônia”, diz. “Anuros [sapos, rãs e pererecas], em geral, têm muitas defesas químicas em suas peles, geralmente usadas para proteção contra fungos, bactérias e predadores”, acrescenta.

Ainda de acordo com o biólogo, as interações entre rãs e invertebrados foram pouco registradas, exceto nos casos de relações mutualísticas ou comensais, ou seja, entre duas espécies diferentes em que ambas se associam e se beneficiam, como é o caso de algumas espécies de sapos Microhylideos e aranhas Theraphosides. “Da mesma forma, associações entre sapos e formigas são pouco relatadas na literatura, sendo conhecidas apenas as espécies de anuros Kassina fusca, K. senegalensis e Phrynomantis microps vivendo em ninhos de formigas na savana africana”, explica.

Comunicação

Na Amazônia, os mecanismos utilizados pela rã Lithodytes lineatus para viver com as saúvas ainda não haviam sido estudados. Sabe-se, porém, que as colônias das formigas Atta utilizam substâncias químicas para reconhecimento e comunicação.

Barros explica que feromônios produzidos e armazenados em glândulas localizadas em diferentes partes do corpo das formigas Atta são as principais vias de comunicação entre os membros da colônia e desencadeiam comportamentos específicos. É possível classificá-los em feromônios de alarme, de territorialiedade, de marcação de trilhas e de reconhecimento de parceiros de ninho.

Fonte: MCTIC